terça-feira, 5 de janeiro de 2021

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IVERMECTINA E COVID-19

Com a enorme publicização de alguns supostos tratamentos para a infecção pelo COVID-19, achei necessário o esclarecimento após estudo aprofundado de tudo que há na literatura médica sobre o assunto. Claro que nós, profissionais de saúde, queremos muito não só uma maneira de prevenção mas um método efetivo de tratamento para esta doença tão importante que modificou a rotina de todos.

A Ivermectina é um agente antiparasitário (usado para tratamento infestação de vermes e alguns protozoários), que vem sendo pesquisada recentemente por uma atividade antiviral contra uma ampla gama de vírus, sendo esta atividade, originalmente identificada como um inibidora de uma enzima do vírus HIV, consequentemente  inibindo a replicação do vírus. E, a partir desta identificação, passou a ser pesquisada para diversos vírus do tipo RNA e DNA sempre in vitro  (no laboratório sem uso de animais ou testes em humanos), exceto em um estudo realizado com o vírus da chamada pseudo-raiva, onde apresentou efeito tanto in vitro quanto in vivo, prolongando a vida de camundongos infectados. Outro estudo com o Zika vírus não obteve o mesmo sucesso em animais. Outro estudo na Tailandia, já em humanos infectados com o vírus da Dengue, mostrou redução da carga viral (diminuição da “quantidade de vírus”) porém sem nenhuma melhora dos pacientes.

Um estudo publicado em Junho de 2020 em um periódico chamado Antiviral Research (Caly et al.), testou a ação da ivermectina em culturas de células semeadas com o vírus do SARS-COV-2 (COVID-19), e obteve uma inibição significativa da replicação viral, tornando-se o primeiro passo para levantar a hipótese de que o fármaco pudesse ter alguma ação em pacientes infectados pelo vírus.

Lembrando que a ação nem sempre se reproduz em animais ou humanos e, mesmo que tenha êxito na inibição do vírus por qualquer mecanismo, isso não significa que o paciente obterá melhora do quadro ou não progressão da doença como consequência. São apenas hipóteses geradas na busca de respostas para um tratamento mais efetivo da doença.

Um estudo observacional do tipo caso-controle, ainda no formato “pré-print” (ou seja, ainda não revisado e publicado) no medrxiv em 10 de junho (ICON), através da observação de 280 pacientes confirmados para COVID, de 4 Hospitais da Flórida, comparando pacientes que haviam tomado pelo menos uma dose de ivermectina e pacientes com tratamento padrão, relatam resultado promissor de redução de mortalidade mesmo nos pacientes mais graves. No entanto, caso seja aceito para publicação e os dados confirmados, ainda assim apenas levanta a necessidade de realização de estudos maiores e controlados para retirar fatores confundidores da análise.

Em resumo: Não tomem ivermectina em casa por enquanto!!!Aguardem os dados serem devidamente publicados, validados e interpretados para sabermos se existe alguma evidência de benefício

A ANVISA, em Julho/2020, emitiu uma nota de esclarecimento para reforçar que não existe nenhum estudo conclusivo que aponte benefícios no uso da IVERMECTINA para o COVID.

O CDC dos EUA também não recomenda o uso da ivermectina para o tratamento de COVID, exceto para pesquisa.

Universidades Brasileiras também vem estudando o medicamento, porém, até o momento sem sucesso.

Desta maneira, fica claro que qualquer indicação neste momento de Ivermectina para tratamento de infecção pelo SARS-COV-2 (COVID), é totalmente sem fundamento.
Aguardamos pesquisas e torcemos por bons resultados.

Danilo Stabile Gonnelli
Médico - Especialista em Clínica Médica
Residente de Cardiologia Clínica